segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

DECRIPOLOU TOTEPOU

Odília Nunes

Com uma poética nos seu movimentos, Odília cria um elo simétrico entre o palhaço e a platéia, que por sua vez se sente a vontade como numa conversa particular, e assim expressando-se espontâneamente sobre tudo que lhe é oferecido pela brincante.   Isso é apenas um aperitivo do que realmente é Decripolou Totepou...

Vai já pra dentro menino! – Manuel Bandeira
Vai já pra dentro menino!
Vai já pra dentro estudar!
É sempre essa lengalenga
Quando o que eu quero é brincar…
Eu sei que aprendo nos livros,
Eu sei que aprendo no estudo,
Mas o mundo é variado
E eu preciso saber tudo!
Há tempo pra conhecer,
Há tempo pra explorar!
Basta os olhos abrir,
E com o ouvido escutar.
Aprende-se o tempo todo,
Dentro, fora, pelo avesso,
Começando pelo fim
Terminando no começo!
Se eu me fecho lá em casa,
Numa tarde de calor,
Como eu vou ver uma abelha
A catar pólen na flor?
Como eu vou saber da chuva
Se eu nunca me molhar?
Como eu vou sentir o sol,
Se eu nunca me queimar?
Como eu vou saber da terra,
Se eu nunca me sujar?
Como eu vou saber das gentes,
Sem aprender a gostar?
Quero ver com os meus olhos,
Quero a vida até o fundo,
Quero ter barro nos pés,
Eu quero aprender o mundo!





quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um Teatro de Pensadores

 Manifesto pelo Teatro
Fernando Bonassi


Contra a ignorância, o terror, a falta de educação, a propaganda de promessas, o conforto moral, a ordem acima do progresso, a fome, a falta de dentes, a falta de amores, o obscurantismo... nós fazemos teatro.


Fazemos teatro para dar sentido às potencialidades, pra ocupar o tempo, pra desatolar o coração, pra provocar instintos, pra fertilizar razões, por uns trocados, por uma boa bisca, porque é fundamental e porque é inútil.


Pra subir na vida, pra cair de quatro, pra se enganar e se conhecer, contra a experiência insatisfatória, contra a natureza, se for o caso... nós fazemos teatro. Fazemos teatro pra não nos tornarmos ainda piores do que somos. Pra julgar publicamente os grandes massacres do espírito. Pra viabilizar esperança humana, essa serpente...


Nós fazemos teatro de manhã, de tarde e de noite. Nós somos uma convivência de emoções, 24 horas distribuindo máscaras e raízes.


Nós fazemos teatro de tudo, o tempo todo, porque acreditamos que a vida pode ser tão expressiva quanto a obra, e que devemos ter a chance de concebe-la e forni-la artisticamente. Porque estamos acordados.


Porque sonhamos os nossos pesadelos.


Nós fazemos teatro apesar daqueles que, por um motivo que só pode ser estúpido, estejam “contra” o teatro. Aliás, quem pode ser “contra” algo tão “a favor”?


Nós fazemos teatro contra a mediocrização do pensamento, a desigualdade entre os iguais e a igualdade dos diferentes.


Nós fazemos teatro contra os privilégios dos assassinos de gravata, batina, jaqueta, toga, minissaia, vestido longo, farda, camiseta regata ou avental.


Contra a uniformidade, nós fazemos teatro.


Nós fazemos teatro contra o mau teatro que querem fazer da realidade.


Nós fazemos teatro para explicarmo-nos – ainda que mal – e ao mal de todos nós dar algum destino menos infeliz.


Nós fazemos teatro para morrer de rir e pra morrer melhor.


Pra entender o inestimável, pra esfregar no infalível, pra resvalar na nobreza, pra experimentar as mais sórdidas baixezas, pra brincar de Deus...


Nós fazemos teatro comendo o pão que os Diabos amassaram, os pratos feitos que as produções financiam, e os jantares que as permutas permitem.


Nós temos fome da fome de teatro. Porque onde houve e há teatro, houve e há civilização.


Fazemos teatro sim e estamos vivendo, tem gente que não faz e está morrendo, essa é que é a verdade...